Texto de Mário Maestri,
publicado em https://gz.diarioliberdade.org
Em 5 de julho, em
primeira mão, o tradicional Jornal do Comércio de Porto Alegre noticiava a
formalização da ruptura organizada, em todo o Brasil, de um número substancial
de militantes do PSTU.
Dito e feito. No dia
seguinte, o “Manifesto pela construção de uma nova organização socialista
revolucionária no Brasil”, assinado por mais de setecentos militantes,
anunciava, salvo engano, a primeira ruptura maciça naquela organização, desde o
fracionamento de 1980, quando ainda se denominava Convergência Socialista.
Tamanha foi a procura do “Manifesto” que o blog que o difundiu manteve-se no ar
precariamente.
Os comentaristas e a
própria carta-resposta da direção do PSTU enfatizam como razão da ruptura a
divergência sobre a tática na luta contra o “impeachment”. Segundo a nota de
resposta do PSTU, a divergência “mais importante foi em relação a que posição
tomar diante da queda do governo de colaboração de classes de Dilma, formado
pelo PT e por seus aliados burgueses”. Nela, se defende que, juntar-se às
mobilizações da Frente Povo Sem Medo, contra o golpe institucional, é se
incorporar à “ala esquerda da campanha ´Fica Dilma´”. Para a direção do PSTU,
os “trabalhadores queriam que o governo [Dilma] saísse [...].” Portanto, o
proposto golpe institucional constituiria mera substituição de um governo
burguês por outro.
A nova agremiação
política rejeita a consigna “Fora Dilma, Aécio, Temer Cunha, fora todos eles!”,
criticada por segmentos da esquerda como apoio envergonhado a um golpe que a
direção do PSTU teima em desconhecer. O “Manifesto” propõe integrar-se à luta
contra o golpe institucional, sem apoiar o governo passado ou a pretendida
volta programaticamente recauchutada da senhora Dilma Rousseff e do PT. Em
relação à política oficial do PSTU, se trata de uma metamorfose da água em
vinho, de indiscutível repercussão política, devido à qualidade e quantidade da
organização em formação.
O tenso momento
político que vive o Brasil acresce a importância da presente ruptura e da
reorientação de ação política proposta. Porém, cremos que o significado da
presente separação transcende e supera essa importante reorientação da política
conjuntural. O significado político do presente quebrar de pratos ultrapassa
quantitativa e qualitativamente as pequenas, médias e grandes rupturas
conhecidas pelo PSTU, que passaram em geral despercebidos mesmo aos
politicamente melhor informados. Separações que não alcançaram a construir
grupos independentes e significativos.
O Geral e o Singular
Seguindo o método
marxista, o grupo divergente supera a orientação geral seguida nos últimos 35
anos, no mínimo. E a partir da reelaboração da visão de totalidade do período
histórico, reorganiza sua ação no singular. Ou seja, dá meia volta, rompe com
as fantasmagorias em que o PSTU-LIT subsiste, e procura abraçar o curso da vida
real. Um processo certamente determinado pela pressão da realidade social sobre
militância entregue à tarefa ingrata de avançar propostas inconsequentes e, não
raro, antissociais, em espécie de associação do trabalho de Sísifo ao castigo
de Prometeu.
Aquela contradição
prática contribuiu para reelaboração teórica, concreta e progressiva, superando
as percepções abstratas e regressivas do processo histórico geral e particular.
O “Manifesto” inicia precisamente pela ruptura com a avaliação do PSTU-LIT
sobre o período histórico atual, retomando questão velha de três décadas.
“Acreditamos que as dificuldades enfrentadas pelos revolucionários neste início
de século 21 encontram sua explicação mais profunda no impacto reacionário da
restauração capitalista na URSS, leste europeu, sudeste asiático e Cuba.” A
dissolução dos Estados operários degenerados, antes definida como avanço
revolucionário, é agora compreendida, pelo grupo dissidente, como golpe
histórico epocal no mundo do trabalho.
O avanço da revolução
mundial ao fim da II Guerra encerrou-se com a vitória histórica do capital
sobre o trabalho, em fins dos anos 1980. Esse tsunami contrarrevolucionário
impulsionou a restauração política e econômica capitalista nos Estados
operários burocratizados e a destruição de conquistas materiais e imateriais
históricas dos trabalhadores no mundo. Ele produziu terríveis sequelas
econômicas, sociais, políticas, ideológicas, etc. que hoje em processo de
radicalização. Com o recuo da revolução, avançou a passos fortes a barbárie.
O “Manifesto” descreve
esse processo sucintamente: “[...] a ofensiva política, econômica, social,
militar e ideológica do imperialismo, os discursos sobre ´o fim da história´ e
a adaptação da esquerda reformista à ordem burguesa” pesaram fortemente sobre o
“movimento de massas” mundial. Em consequência, o mundo do trabalho
“retrocedeu” na “consciência e organização”. Instalava-se, assim, o que já foi
definido como “crise subjetiva” da classe trabalhadora. Isto é, a descrença em
seu programa para a solução da crise patológica do capitalismo em sua fase
senil.
Nada Será Como Antes
Com tal caracterização,
cruza-se o Rubicon, em relação à avaliação que ordenou a prática do PSTU-LIT
nas últimas décadas. Quando daqueles sucessos, aquela direção saudara a
dissolução dos Estados operários - e segue saudando - como avanço da revolução
mundial. Propusera restauração capitalista, comandada pela burocracia
socialista, antes de fins de 1980, e apresentara a dissolução dos Estados
operários como mero abatimento das direções estalinistas pelos trabalhadores.
Aplaudira a hecatombe do que restava de mais de setenta anos de conquistas
operárias como parte da “revolução política” proposta por León Trotsky, na qual
o proletariado recuperariam a gestão político-econômica dos estados operários
que lhe fora expropriada.
Boa parte do trotskismo
mundial, junto com o PSTU-LIT, avaliou positivamente aquela hecatombe
histórica, que comprometia o próprio destino da humanidade, rompendo com a
visão de León Trotsky da necessária defesa incondicional da URSS, mesmo sob o
controle político burocrático. Nos seus últimos meses de vida, o revolucionário
russo polemizou com facção da pequena IV Internacional que propunha o abandono
da defesa da URSS, definida como espécie de sociedade capitalista. Apresentada
Em defesa do marxismo, a defesa de León Trotsky da URSS constitui exposição
paradigmática do método marxista.
Foi enorme o desvio de
conduta política ensejado por avaliação positiva arbitrária da vitória da
contrarevolução mundial. Nos anos seguintes à queda do muro de Berlim, a
direção morenista - como tantas outras tendências trotskistas - seguiu
apresentando como avanço da revolução vitórias continuadas da contrarevolução
imperialista. Proclamavam-se tempos revolucionários, enquanto o mundo do
trabalho recuava, duramente golpeado e desorientado. Rompia-se com o marxismo
revolucionário e com a realidade objetiva.
Quarenta anos de
refluxo
Essa reavaliação
essencial, expressa pelo “Manifesto”, nasceu certamente de rico debate no seio
do PSTU, do qual, lamentavelmente, não temos informação. Entretanto, chamam a
atenção dois artigos germinais de Ênio Bucchioni, publicados, em fins de 2015,
no Blog Convergência, do PSTU, então sob direção de Valério Arcary. Avaliação
política que recebeu, semanas mais tarde, resposta rabugenta por parte de
Martín Hernandez, dirigente do PSTU-LIT, no mesmo veículo, como veremos a
seguir.
No primeiro artigo,
“1975 versus 2015: Vietnã, última expropriação sobre a burguesia”, Ênio
Bucchioni, matemático, fundador da Liga Operária, há anos fora do PSTU,
apresenta sinteticamente a restauração capitalista nos Estados operários como
colossal drama histórico, descrevendo as longas décadas de refluxo da
revolução, do nível de organização, do estágio de consciência dos
trabalhadores, etc. Lembra que, hoje, apenas aqueles que possuem em torno de 60
anos presenciaram, em forma plenamente consciente, uma vitória da revolução
socialista. A última teria sido no Vietnã, em 1975.
No segundo artigo,
“1975 versus 2015: A consciência anos após o fim dos Estados Operários”,
Bucchioni traça valioso painel sobre a instauração da proposta “crise de
subjetividade do proletariado”. Para tal, serve-se da sua experiência - e de
sua geração - para exemplificar sua proposta. Lembra a rapidez do crescimento
da minúscula Liga Operária - dez militantes ao todo - fundado à sombra do PST
de Nahuel Moreno. Em 1978, sob o nome de Convergência Socialista, em período de
ditadura militar, ela literalmente explodiu no Brasil, conquistando quase
seiscentos militantes! Naquele então, o Brasil tinha menos oitenta milhões de
habitante do que hoje. Ou seja, os seiscentos de então valem mil hoje!
Um “cresciento
espantoso” que não se restringiu ao Brasil e ao morenismo, mas alcançou as
“várias nuances do trotskismo”, assinala Bucchioni. Sobretudo, lembra que, caso
a progressão da Liga Operária, entre 1975 e 1978, se mantivesse, o PSTU teria,
em 2015, mais de 160 mil militantes! Para um país de 200 milhões, nenhuma
extravagância. Propõe que a liliputização da esquerda revolucionária que se
seguiu, no Brasil e no mundo, foi devido à vitória mundial da contra-revolução.
“Para as massas no mundo inteiro, para a quase totalidade dos ativistas, o fim
dos Estados Operários cravou em suas consciências que o socialismo morrera.” As
“massas” não mais reivindicaram o socialismo.
Para Bucchioni, tamanha
foi a regressão que, em muitos países, como o Brasil, sequer a consciência
classista impera hoje o mundo do trabalho. No nosso país, nesse cenário
crescentemente árido, mesmo no seio da vanguarda política, passou a dominar a
luta pelas reivindicações democráticas e das minorias, no seio da ordem capitalista.
O parlamentarismo consolidou-se como programa e prática, com destaque para os
segmentos dominantes do PSOL - alguns deles morenistas. A dura avaliação
conclui-se com a lembrança de que, nos últimos anos, esse cenário conhece
indiscutível reação das classes trabalhadoras, ainda que eminentemente
defensiva. Luta defensiva definida como o passo possível para eventual e
necessária “contraofensiva”.
Uma Resposta Azeda
Semanas mais tarde,
Martin Hernandez, argentino, dirigente da LIT, radicado no Brasil desde 1979,
respondeu, em forma azeda, aos artigos de Bucchioni. Partiu impugnando a
proposta de que a restauração capitalista no Leste europeu determinara “uma
nova ´época´.” Para ele, apenas os “exageros” e a “falta de seriedade” de seu
ex-camarada na Convergência e no PSTU permitiriam propor que, antes de 1989,
viveram-se tempos nos quais o “fim do capitalismo e do imperialismo estava
próximo”. Apoiado em sua vivência na Argentina e nos Estados Unidos, propõe
que, antes da grande maré contra-revolucionária, a consciência da vanguarda e
das massas organizadas não seria tão avançada como defendido por Bucchioni.
O proposto crescimento
“espantoso” do trotskismo, no mundo e sobretudo no Brasil, seria um exagero.
Segundo Hernandez, em 1968, após 25 anos de existência, o morenismo teria
apenas duzentos militantes na Argentina, trinta no Peru, trinta na França e
nenhum em Portugal. Reconhece como exceções relativas, após aquela data, a
Espanha, a Inglaterra, a França e o Brasil, onde o trotskismo teria vivido apenas
um “desenvolvimento importante”. Propõe que, em fins de 1978, a Convergência
Socialista reunia 800 militantes, que se reduziram a trezentos, no ano
seguinte, devido a uma grande ruptura. Não se refere à militância da OSI
lambertista [LiBeLu] e da DS mandelista, que também cresceram, na mesma época,
exponencialmente! Fora diversas outras pequenas organizações trotskistas.
Para Hernandez, no
Brasil e no mundo, o déficit de crescimento revolucionário deveria-se à
hegemonia stalinista e não à maré contrarrevolucionária. Ao estabelecer pacto
contrarrevolucionário com o imperialismo, o stalinismo transformou-se na maior
barreira para a revolução. A única “possibilidade de acabar com o capitalismo”
seria através da derrota “internacional” do stalinismo. Hernandez propõe que a
restauração capitalista se impôs nos Estados operários, entre 1960 e 1985,
portanto, antes da dissolução da URSS e dos Estados operários. Porém, aquele
processo não teria determinado “retrocesso da luta de classes” e de
“consciência” ou “fortalecimento do imperialismo”. Ao contrário, teria ensejado
“revolução em séria, como nunca se havia visto na história”, responsável pelo
arrasamento dos “regimes burgueses [sic], ditatoriais, dos partidos
comunistas”.
Regimes fascistas
Em síntese, a restauração
capitalista deu-se antes da dissolução da URSS e dos Estados operários, que foi
promovida pela mobilização dos trabalhadores e populares sublevados! Movimento
revolucionário que iniciara “uma nova etapa da luta de classes”, ao arrasar os
“regimes fascistas ou semifascistas” dos Estados operários. Com esse “fato
colossal da luta de classes”, entrávamos em uma nova era. O stalinismo fora
finalmente vencido! Mesmo que, para isso, tivesse sido necessário atirar, do
15º andar, a criança com a água suja! Em outras palavras, se Paris valia uma
missa, o fim do stalinismo valeria o arrasamento total dos Estados operários!
No mesmo trote-galope,
Hernandez recrimina Bucchioni por sentir saudades daqueles tempos, “dos
milhares de trabalhadores e jovens que desfilavam com as bandeiras vermelhas do
PC” chileno. E quem não sente saudade funda e dolorosa daqueles camaradas,
parte do que de melhor foi produzido pela luta de classes em nosso continente.
Tantos deles enfrentaram galhardamente o destino com o sonho do socialismo no
coração e a carteirinha de militante do PC chileno no bolso.
O dirigente do PSTU
conclui seu texto em forma patética. Celebra como conquista magnífica a
possibilidade de ter realizado seu “velho sonho, de visitar a Rússia, a Polônia
e a Ucrânia” sem ser ameaçado pela repressão stalinista! Uma viagem turística
cara, muito cara, já que produzida, não pela revolução, mas pela
contrarrevolução, através da privatização de centenas de milhares de fábricas,
fazendas, oficinas, negócios, escolas, etc. Um passeio que se deu sob as costas
de dezenas de milhões de homens e mulheres mergulhados na pobreza, na miséria,
na doença, na morte.
As Raízes dos Erros
A destruição dos
Estados operários, sob os golpes e a pressão do capital mundial, foi drama que
coloca sob sursis o próprio destino da humanidade. A defesa desse processo por
organizações que se propõem socialistas coloca problema candente. As direções
revolucionárias erram, e como erram, mesmo se esforçando para acertar. Erram
por falta de experiência, de formação política, por escassas raízes com o mundo
do trabalho. Porém, ao verem suas políticas esfaceladas pela prática - o grande
critério da verdade - esforçam-se para corrigir os erros, enquanto ainda é
tempo.
Os erros políticos
consolidados e de grande dimensão são de outra natureza. Mais comumente, eles
nascem das fortíssimas pressões advindas das elites operárias, das classes
médias, dos segmentos dominantes. E esses erros, de resultados terríveis para a
ação revolucionária, podem resultar eventualmente em dividendos positivos,
transitórios ou permanentes, para núcleos de militantes, não raro encrustados
nos aparatos organizacionais. É bom lembrar que a social-democracia já foi a
vanguarda revolucionária do poderoso movimento operário europeu.
O monumental erro de
avaliação, por mais de três décadas, sobre a destruição dos Estados operários,
não se explica certamente apenas por insuficiências metodológicas ou empíricas.
As sequelas sociais daquele processo foram de dimensão suficiente para por fim
a quaisquer dúvidas. Uma avaliação tão excêntrica e de tão longa duração
expressou certamente desvios de classe, com destaque para as concessões ao
democratismo e ao formalismo pequeno-burguês, fortalecidos no contexto
contrarrevolucionário dominante. E essa abnormidade interpretativa teve
consequências gravíssimas não apenas quanto à educação da militância. Ela
transformou-se em apoio indiscutível à contrarrevolução.
Nas últimas décadas, o
apoio à restauração capitalista dos Estados operários degenerados espraiou-se
para outros domínios da luta nacional e de classe. Através do mundo, direções
trotskistas saudaram os fedayins de Osama Bin Laden como paladinos da
liberdade, mesmo quando degolavam comunistas afegãos. Replicaram os sinos
enquanto a Iugoslávia e a Sérvia eram demolidas pelos bombardeiros da OTAN,
pois significava o fim dos herdeiros de Tito. O arrasamento do Iraque e da
Líbia valiam a queda de Saddam e Kadafi. Agora, apoia-se o esfacelamento da
Síria, pelo imperialismo e pela Arábia Saudita, já que Assad não é um
presidente democrático.
Também a destruição
desses Estados foi saudada como ação progressiva empreendida por facções
revolucionárias, tão fantasmagóricas como as que teriam derrubado as direções
stalinistas nos Estados operários. Todas lutavam contra burocracias ou
ditadores. Facções revolucionárias que sequer necessitaram se dissolver no ar,
pois jamais se solidificaram no mundo real, a não ser como fantasias criadas
para justificar indiscutível apoio à ação imperialista. Porém, a necessária
defesa das nações agredidas, diante das nações imperialistas agressoras, foi
política definida no 2º Congresso da Internacional Comunista.
Romper com o
propagandismo
O “Manifesto pela
construção de uma nova organização socialista revolucionária no Brasil” propõe
a urgência de romper com o autismo propagandista que se limita a agitar
intransigente o programa máximo revolucionário, à espera que seja abraçado
pelos trabalhadores, que não raro sequer compreendem o que se propõe. Com os
pés no chão, reconhece a fragilidade do mundo do trabalho no Brasil e,
portanto, a necessidade de intervenção em suas lutas, reivindicações e
necessidades do dia a dia, na perspectiva da construção permanente de ruptura
cabal com o capitalismo.
Reivindica o modelo de
organização leninista, no mais estreito respeito da democracia e disciplina; a
centralidade revolucionária do operariado; os quatro primeiros congressos da
Internacional Comunista; o Programa de Transição. Define-se como “pequeno ramo
do marxismo revolucionário mundial” e avança a necessidade da luta pela
reconstrução da IV Internacional. Rejeita o cretinismo parlamentar e a
“transformação dos deputados, senadores e prefeitos em figuras todo-poderosas,
que só devem satisfação a si mesmo”, que caracterizou a decomposição do PT e
hoje já habitual no PSOL.
A reivindicação da
“herança do trotskismo latino-americano, que teve em Nahuel Moreno seu
principal dirigente e organizador” tem sido vista como motivo de possível
redução da área de influência, caso essa proposta constitua eixo constitutivo
central da nova organização. Porém, pode-se também ver nas novas propostas
tendência ao rompimento com as práticas e propostas morenistas. A proposta da
organização de se manter na LIT, como “seção simpatizante” tem também
surpreendido. Entretanto, devido ao porte da nova organização e a possibilidade
que conheça rápido crescimento - não há na esquerda brasileira organização
marxista revolucionária não sectária -, uma participação na LIT teria efeito
benéfico. Espraiaria os avanços alcançados às organizações não brasileiras
daquele tendência internacional.
Contro o Golpe, Contra
Dilma
O “Manifesto” abraça
tese comum a muitos grupos revolucionários. A derrubada do governo da senhora
Dilma Rousseff seria progressivo apenas se fosse realizada pelos trabalhadores.
Nesse sentido, aponta igualmente o PT, Lula e Dilma como os grandes
responsáveis políticos, na esquerda, pela atual tragédia da classe
trabalhadora. Foram eles que abriram caminho para Temer e Meirelles. Propõe o
combate intransigente ao golpe institucional, sem qualquer apoiar ao “volta
Dilma”, mesmo sob a proposta de política neoliberal mais adocicada.
Defende a construção de
um “terceiro campo” ou “frente de luta” com “todos os setores” que estiverem
“na oposição de esquerda ao governo”. “Propomos ao PSTU, ao PSOL, ao PCB, às
organizações políticas que não possuem legalidade e aos movimentos sociais a
construção de uma Frente de Esquerda e Socialista, com um programa de ruptura
com os planos de ajustes que são aplicados por todos os governos e
prefeituras.” Proposta avançada periodicamente nos períodos eleitorais que não
se mantém além do pleito. Cremos que, sobretudo devido ao fato de que, no
interior de algumas das organizações assinaladas, haja projetos no geral divergentes
com os objetivos da construção de aliança tendencialmente anticapitalista.
Entretanto, um tal projeto pode, indiscutivelmente, assegurar reagrupamento no
relativo ao programa e à ação jamais realizada nos últimos tempos no Brasil.
Devido ao seu caráter,
a ruptura de 5 de agosto pode ter uma influência benéfica sobre a esquerda
classista e trotskista brasileira internacional. Ainda que nasça, como proposto
no “Manifesto”, em uma era singularmente árida para a revolução e para o mondo
do trabalho. Porém, trata-se, definitivamente, de uma forte lufada de ar
fresco, em atmosfera em contínua degradação, não apenas no nosso cada vez mais
triste país e continente. Indiscutivelmente expressa, por caminhos tortuosos, o
esforço dos trabalhadores para construir seu porvir. Que cumpra os objetivos a
que se propõe!
Biografía
de Mário Maestri
62, brasileiro e
italiano, nasceu em Porto Alegre, RS. Estudante, participou da resistência à
ditadura [1964-85], refugiando-se no Chile [1971-73], prosseguindo seus estudos
e militância. Após o 11 de setembro, refugiou-se na Bélgica [1974-77],
graduando-se e pós-graduando-se em História, na UCL. De volta ao Brasil,
integrando-se à luta contra a ditadura militar e pelo socialismo. Participou da
fundação do PT e, mais tarde, do PSOL.
Hoje, é comunista sem
partido. Trabalhou em instituições de ensino superior, no RJ e RS. Em 1984-6,
foi correspondente internacional em Milão, de diário rio-grandense.
Estudou e publicou
sobretudo sobre a história da escravidão colonial e da imigração camponesa.
Atualmente, estuda a formação dos Estados da bacia do Prata e a Guerra do
Paraguai. E-mail: maestri@via-rs
Nenhum comentário:
Postar um comentário