quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Executivos de bancos de investimento recebem até R$ 3 milhões por ano

Os profissionais de bancos de investimento são os mais bem remunerados do setor bancário no Brasil.


Os números são da última edição da pesquisa sobre salários de executivos realizada pela Michael Page. Profissionais de bancos de investimento são especializados em operações de fusões e aquisições, emissões de renda fixa e variável e estruturação de grandes operações de crédito.

Segundo o gerente da divisão de "banking" da consultoria, Luis Granato, a política de pagamento de bônus vem sendo rediscutida aqui no Brasil. "Desde o final do ano passado, as instituições financeiras que são nossos clientes começaram a pedir aconselhamento sobre como fazer os pagamentos.

A preocupação em saber o que os concorrentes vêm fazendo está crescendo", diz. Segundo o especialista, é cada vez mais comum as instituições adotarem aqui o mesmo que seus pares estrangeiros fazem nos Estados Unidos e Europa desde a eclosão da crise financeira internacional, em 2008: o "diferimento" dos bônus.

Isso significa que em vez de pagar os bônus em dinheiro, paga-se em ações - e o executivo só pode vendê-las no mercado em três anos. "Se sair da instituição antes, perde os bônus", explica Granato. Esta é uma maneira de as instituições desembolsarem menos recursos com esses pagamentos anuais e ainda conseguir reter o executivo. "Muitas vezes eles embolsavam enormes quantias no final do ano e logo depois trocavam de emprego", diz Granato.

A pesquisa não revela essa mudança na política de pagamento de bônus. "É algo que percebemos no contato constante com nossos clientes, principalmente no final do ano. Quando divulgamos a pesquisa, somos procurados pelos departamentos de recursos humanos para ajudá-los a estabelecer as regras de bonificação e contratação para o ano seguinte", afirma.

Segundo Granato, os executivos brasileiros de bancos de investimento demoraram a ver seus bônus serem cortados, redimensionados ou renegociados. Por isso, hoje, seus salários "não deixam nada a desejar" aos dos executivos que ocupam funções semelhantes em grandes bancos em Nova York. Mas segundo o especialista, os bancos estrangeiros de primeira linha com filiais aqui, como J.P.Morgan, ainda são os que pagam os maiores salários.

O setor de "banking" na pesquisa da Michael Page inclui bancos de varejo, de investimento, private equity, butiques de fusões e aquisições, gestoras de fundos, bandeiras de cartões, credenciadoras e empresas de meios eletrônicos de pagamento, financeiras, empresas de leasing e consórcios. Em cada uma delas foram mapeados os salários e remunerações variáveis de diversos cargos, desde os de áreas de suporte até os de vendas.

Depois dos bancos de investimento, quem recebe os maiores salários são gestores de fundos, analistas de ações "buy side" e estrategistas que administram mais de R$ 1 bilhão em recursos - além do fixo, os bônus e participações podem chegar a R$ 1 milhão ao ano. Profissionais de corretoras também podem ganhar até R$ 800 mil por ano em remuneração variável, além de salários que chegam a R$ 50 mil por mês.

Mercado de investimento paga os melhores bônus

"As posições mais almejadas e que melhor remuneram os executivos dentro do mercado financeiro estão dentro das instituições que atuam no mercado de investimento (Investment Banking, Wealth Management e Private Equity) porque estes profissionais estão envolvidos em negócios muito grandes e são responsáveis por carteiras de clientes com valores expressivos e de fundamental importância para o banco", afirma Granato. "Não é raro ver jovens trainees de 20 anos recebendo salários de R$ 11 mil mensais mais luvas de R$ 50 mil por ano", acrescenta o especialista. Mas essa política de bônus está mudando.

Dentro dessa mesma linha, outra área que está remunerando muito bem seus executivos é a de private equity. A atividade é recentemente nova no Brasil, e está crescendo. "Esses fundos compram empresas fechadas, com faturamento de até R$ 400 milhões ao ano, de estrutura familiar e sem plano de sucessão - como Tok Stok, CVC, Dudalina...

Temos cada vez mais casos como esses no Brasil, o que é música para os ouvidos dos profissionais de private equity", diz. Segundo Granato, como é raro encontrar profissionais especializados, é também cada vez mais comum ver gerentes de bancos saindo de seus empregos para assumir posições nesses fundos, onde a remuneração é baseada em risco mas pode superar os R$ 800 mil anuais.

m remunerados do setor bancário no Brasil. Em muitos casos, graças à agressiva política de pagamento de bônus dessas instituições, os profissionais ganham o mesmo, ou até mais, do que presidentes de grandes empresas. O principal executivo de um "investment bank" - o "manager director", que equivale a um cargo de presidente chega a ganhar até R$ 2 milhões ao ano em remuneração variável, além de um salário mensal que pode atingir R$ 80 mil. Somados, são quase R$ 3 milhões em um ano.

Por que a Suécia está revendo a privatização do ensino

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Escolas introduziram publicidade maciça, pressão sobre professores e estímulo permanente à competição. Resultados lastimáveis estão levando defensores da “novidade” a pedir desculpas públicas
Quando uma das maiores empresas privadas de educação faliu, alguns meses atrás, deixou 11 mil alunos a ver navios e fez com que o governo da Suécia repensasse a reforma neoliberal da educação, feita nos moldes da privataria com o Estado financiando a entrega dos serviços públicos aos oligopólios capitalistas e assim causando graves prejuízos para os trabalhadores e a população.
No país de crescimento mais acelerado da desigualdade econômica entre todos os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os aspectos básicos do mercado escolar desregulamentado estão agora sendo reconsiderados, levantando interrogações sobre o envolvimento do setor privado em outras áreas, como a de saúde.
Duas décadas após o início de seu experimento de “livre” mercado na educação, cerca de 25% dos alunos do ensino médio da Suécia frequentam agora escolas financiadas com recursos públicos, mas administradas pela iniciativa privada. Essa proporção é quase o dobro da média mundial. Quase metade desses alunos estudam em escolas parcial ou totalmente controladas por empresas de “private equity”, que compram participações em outras empresas.
Na expectativa das eleições do ano que vem, políticos de todos os matizes estão questionando o papel dessas empresas, acusadas de privilegiar o lucro em detrimento da educação, com práticas como deixar alunos decidirem quando aprenderam o suficiente para passar e não manter registro de notas.
O oposicionista Partido Verde – que, a exemplo dos moderados, apoia há muito as escolas de gestão privada, mas que agora defende um recuo – divulgou um pedido público de desculpas num jornal sueco no mês passado sob o título “Perdoe-nos, nossa política desencaminhou nossas escolas”.
No início da década de 1990, os pais recebiam vales do Estado para pagar a escola de sua preferência. A existência de escolas privadas foi autorizada pela primeira vez, e elas podiam até ter fim lucrativo.
O Reino Unido absorveu muitos aspectos desse sistema, embora não tenha chegado a permitir que escolas custeadas com dinheiro público visassem lucro. Empresas de educação suecas alcançaram países tão distantes como a Índia.
A falência, neste ano, da JB Education, controlada pela empresa dinamarquesa de “private equity” Axcel, foi o maior, mas não o único, caso do setor educacional sueco.
O fechamento da JB custou o emprego de quase mil pessoas e deixou mais de 1 bilhão de coroas suecas (US$ 150 milhões) em dívidas. Os alunos de suas escolas ficaram abandonados.
Uma em cada quatro escolas de ensino médio é deficitária e, desde 2008, o risco de insolvência subiu 188% e é 25% superior à média das empresas suecas, disse a consultoria UC. “São poucos os setores que exibem cifras tão ruins como essas”, disse a UC. Parte do problema resulta da distribuição etária da população, com os números totais das escolas secundárias sofrendo queda significativa desde 2008 e pouca probabilidade de voltar ao antigo nível por uma geração ou mais.
A permissividade do ambiente regulatório também contribuiu. A Suécia substituiu um dos sistemas escolares mais rigidamente regulamentados do mundo por um dos mais desregulamentados, o que levou a escândalos como um caso de 2011 em que um pedófilo condenado pôde abrir várias escolas de forma absolutamente legal.
“Eu disse muitas vezes que é mais fácil abrir uma escola do que uma barraca de cachorro-quente”, disse Eva-Lis Siren, diretora do sindicato de professores Lärarförbundet, o maior da Suécia.
As escolas privadas introduziram muitas práticas antes exclusivas do mundo corporativo, como bônus por desempenho para funcionários e divulgação de anúncios no sistema de metrô de Estocolmo. Ao mesmo tempo, a concorrência pôs os professores sob pressão para dar notas mais altas e fazer marketing de suas escolas.
No início, disseram que a participação privada na educação se daria por meio de escolas geridas individualmente e em nível local. Poucos vislumbraram que haveria empresas de “private equity” e grandes corporações administrando centenas de unidades. “Era uma coisa que não estava sequer nos sonhos mais delirantes das pessoas”, tenta se justificar Staffan Lundh, responsável por questões escolares no governo do primeiro-ministro na época e que hoje dirige a Skolverket, a agência sueca de escolas.
É tão obvio que envolvimento do setor privado e a queda da qualidade estão diretamente ligados que a Skolverket já começa a “vê indícios” de que as reformas de mercado contribuíram para aprofundar o fosso do desempenho escolar.
O referencial Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, nas iniciais em inglês) da OCDE pinta um quadro sombrio, em que a Suécia ocupa atualmente classificação inferior à da Rússia em matemática.
Vinte e cinco por cento dos garotos de 15 anos não conseguem entender um texto factual básico, disse Anna Ekstrom, diretora da Skolverket. Um estudo da agência divulgado no ano passado mostrou um diferencial crescente entre estudantes, em que um número cada vez maior deles não preenche os requisitos necessários para ingressar no ensino médio.
Uma pesquisa da GP/Sifo realizada neste ano com mil pessoas mostrou que 58% são amplamente favoráveis a proibir a geração de lucro em áreas financiadas com dinheiro público, como a educação.
O ministro da Educação, Jan Bjorklund, de centro-direita, dirigente do segundo maior partido da coalizão de governo, formada por quatro partidos, disse que empresas de “private equity” também deveriam ser vetadas como controladoras de empresas do setor de assistência médica, inclusive de assistência aos idosos.
“Acho que acreditamos cegamente demais na possibilidade de mais escolas privadas garantirem maior qualidade da educação”, disse Tomas Tobé, diretor da comissão de educação do Parlamento e porta-voz de educação do governista Partido Moderado. Como são “ingênuos” os neoliberais…
O fechamento de escolas e a piora dos resultados tiraram o brilho de um modelo de educação admirado e imitado em todo o mundo pelos mesmos privatistas e neoliberais que propagandeiam o mercado capitalista como uma espécie de solução milagrosa para todos problemas da sociedade, quando na verdade é o capitalismo quem gera todos os problemas e desigualdades sociais ao concentar toda a riqueza, poder e oportunidades nas mãos de uma classe dominante privilegiada, as custas da miséria, exploração e exclusão de grande parte da humanidade e do empobrecimento crescente dos povos.