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Segundo
advogado, bancos como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil ferem a
liberdade sindical prevista em lei ao estabelecer limites de atuação dentro de
suas agências.
15/01/2015
Por
Maura Silva,
De
São Paulo (SP)

Atualmente
os dois maiores bancos estatais do país, a Caixa Econômica Federal e o Banco do
Brasil, seguem firme no embate sindical para estabelecer limites de atuação
dentro de suas agências. Fatos recentes de ameaça e coerção como os vividos
pela delegada sindical e integrante da Oposição Bancária (MNOB), Juliana
Donato, são cada vez mais comuns.
Funcionária
do BB desde 2008, Juliana vem sendo impedida de desenvolver sua atuação
sindical, após ser enquadrada em medidas disciplinares e termos de ciência de
desvio de comportamento, além de ter suas páginas em redes sociais
constantemente monitoradas pelo banco.
Para
o advogado trabalhista e mestre em Direito do Trabalho pela Universidade de São
Paulo, Gustavo Seferian, a instituição bancária - e o mesmo vale para qualquer
outro empregador -, não pode promover qualquer espécie de ingerência na atuação
dos dirigentes sindicais que são seus empregados.
“A
liberdade sindical, princípio que em 1988 foi alçado à condição de garantia
constitucional, deve ser lida em diversas dimensões, dentre elas, a
impossibilidade de que o empresariado e o Estado interfiram na organização da
classe trabalhadora. Por isso, a meu ver, não há argumento para legitimar esse
tipo de intromissão. A representação sindical e sua liberdade incondicional
para defesa dos interesses de classe devem ser preservadas a todo custo, isso
pensando não só no texto constitucional, mas também em marcos de afirmação
democrática”.
Para
Gustavo, mesmo com algumas garantias empregatícias, a lógica de incutir o medo,
sobretudo o econômico, de que o trabalhador perca sua fonte de sustento é
costumeira e visa engessar os trabalhadores e seus sindicatos em momentos em
que a luta por demandas políticas mais amplas e, não exclusivamente salariais e
corporativas, se faz premente.
Atualmente
outras formas têm sido utilizadas, sobretudo a utilização de interditos
proibitórios, muito comuns no setor bancário, que visam impossibilitar o livre
exercício do direito de mobilização dos trabalhadores.
No
caso dos bancários, esses interditos proibitórios têm como objetivo impedir a
realização de piquetes em agências e prédios administrativos, sob pena de
aplicação de multa e sanções administrativas.
Um
exemplo disso são as pressões sofridas pelo também delegado sindical, Diogo
Portugal Pudles, funcionário da Caixa e eleito, em 2006, representante sindical
pela chapa de oposição (Avante, Bancários!). Diogo está respondendo a um
processo interno, além de sofrer medidas de contenção e advertência por suas participações
em mobilizações de greve e formação de piquetes.
Ainda
para Gustavo, casos como o de Juliana e Diogo representam uma grande
contradição. “Nesse momento de acentuar da crise, dispensas arbitrárias de
grevistas, corte de ponto e salários de trabalhadores, ameaças verbais e
criminalização de condutas fazem parte do repertório dos empregadores para
coibir a atuação dos trabalhadores nesse que é o momento mais importante da
mobilização coletiva da classe”, conclui.
Privatizações
Para
o funcionário da Caixa e integrante da chapa de oposição (Avante, Bancários!),
Messias Américo da Silva, que foi processado administrativamente três vezes nos
últimos quatro anos, tendo os dois primeiros processos sido arquivados por
falta de provas, a privatização dos bancos públicos tende a influenciar
negativamente todos os setores que tem vínculo com os aspectos sociais.
“A
partir do momento que houver a privatização, o Estado tende a se comprometer
cada vez menos com os problemas que afetam a população cotidianamente. E a
abertura do capital econômico da Caixa é um passo importante para isso”, diz.
Para
ele a acumulação de capital também é determinante para a lógica das
privatizações. “Não dá pra desvincular privatização estatal sem ingerência do
capital estrangeiro. A crise estrutural do capital é que baliza as ações dos
estados. O estado brasileiro com sua economia dependente é suscetível a essas
interferências”, finaliza.
Entender
qual o papel dos sindicatos e militantes no projeto de privatização dos bancos
públicos e o que os bancos precisam fazer para barrá-los é fundamental para
entender a coerção sofrida por setores do funcionalismo público no Brasil.
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