domingo, 23 de novembro de 2014

A Greve dos Bancários 2014 – Uma análise por Juary Chagas

Diante dos altos lucros dos bancos e da polarização do segundo turno eleitoral, era possível arrancar vitórias para os bancários
por Juary Chagas

Com um forte debate entre os presidenciáveis sobre o papel do Banco Central e do sistema financeiro, a disputa acirrada do segundo turno dava maior potencial de pressão e seria uma poderosa arma para arrancar as reivindicações dos bancários.
Com apenas 4 dias de greve, a mesa de negociação da FENABAN (Federação Nacional dos Bancos), apresentou proposta de 8,5% para as verbas salariais e 9% no piso. Os bancos também reconheceram que a inflação real está alta e até propuseram 12,2% no VR, no entanto, a proposta era muito baixa sobretudo se considerar que o setor financeiro é o ramo da economia que mais cresce, com rentabilidade no patamar de 15%.

Infelizmente, a Contraf/CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, ligada à CUT), utilizou todos os métodos para acabar com a greve e, desse modo, ficar livre para fazer campanha para a Dilma. Tão logo os bancos apresentaram a propostas, os sindicalistas da CUT trataram de defendê-las nas assembléias, propondo o término da campanha salarial e utilizando, inclusive, os gestores e administradores para lotar as assembléias e votar pelo fim da greve.
Contrariando a lógica imposta pelo comando para os outros bancos , os bancários do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) e Banco do Amazonas (BASA), continuaram a greve. Os bancários ligados à CSP-Conlutas têm importante atuação nas entidades que organizam esses bancários, e decidiram não aceitar a proposta, defendendo intensificar a luta para arrancar um melhor reajuste dos patrões. Isso demonstra que era possível continuar a mobilização nacional unificada.

Mas, infelizmente, ao defender o encerramento da greve com um acordo rebaixado, sem avanços na isonomia, melhores condições de trabalho e saúde e reposição das perdas salariais, a CONTRAF/CUT e seus sindicatos filiados demonstram, novamente, que subordinam nossa campanha salarial à reeleição da Dilma. Ao conter nossa luta e canalizar seus esforços para o processo eleitoral, continuam apoiando uma política que, ao não fazer uma grande transformação social e econômica, traz uma profunda decepção aos trabalhadores. Basta dizer que o Bolsa Família, apresentado como prioridade do governo petista para combater a pobreza, leva do orçamento cerca de 24 bilhões de reais/ano, enquanto o que é destinado para pagar juros e amortizações da dívida aos banqueiros chega a 900 bilhões de reais/ano.

A competitividade nos bancos sobrecarrega os bancários, que sofram com a política de metas e o enxugamento do quadro funcional. Esta política tem reflexos diretos nas más condições de trabalho e adoecimento da categoria. Com a desaceleração da economia – o PIB do país deve crescer menos de 1% – o que está em preparação pelo próximo governo, seja ele chefiado por Dilma ou Aécio – são mais ataques aos direitos dos trabalhadores continuando com a criminalização dos movimentos sociais e dos ativistas. A única saída que resta para os trabalhadores é, portanto, se organizar e lutar!

Não à compensação dos dias de greve

Infelizmente, o acordo defendido pela CONTRAF/CUT prevê a compensação dos dias parados em função da greve (até uma hora por dia entre 15 à 31/10 para quem trabalha 6 horas e até 07/11 para quem trabalha oito), o que na prática avaliza uma política de retaliação aos grevistas. Os bancários do Banpará, que é um banco de bem menor porte, conseguiram o abono de todos os dias da greve, sem qualquer tipo de compensação. Essa postura dos bancos, com o apoio da CONTRAF-CUT, é uma perseguição aos grevistas e isto não pode ser aceito.
Se a responsabilidade pela é dos patrões, que não atendem as reivindicações e empurram os trabalhadores para a greve, são eles que devem arcar com ônus das horas não trabalhadas! Não devemos aceitar nenhum desconto e nenhuma compensação.

In: CONTRACORRENTE – ANO 04 N9 49 – 15 DE OUTUBRO DE 2019
Contra-corrente é uma publicação mensal elaborada pelo ILAESE para os sindicatos, oposições sindicais e movimentos sociais.



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