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Veja a íntegra do artigo do blogueiro Miguel do Rosário sobre o
protesto:
Pela democratização da Mídia: a
mãe de todas as batalhas
Foi uma manifestação pacífica, mas com muito sangue nas veias! Não
quebramos nada, mas xingamos. Ah, como xingamos!
Imagine mil pessoas na porta da Globo mandando o Merval e Jabor pra
aquele lugar. Imagine mil pessoas ouvindo discursos sobre o mensalão que a
Globo levou dos Estados Unidos para apoiar o golpe de 64. Imagina mil pessoas
exigindo que o Ministério Público investigue a sonegação bilionária da Vênus
Platinada.
O microfone era aberto. Qualquer um que se inscrevia, podia falar,
caracterizando o caráter genuinamente democrático da manifestação. Diferente de
algumas recentes onde só diretores de Ongs tem voz. As pessoas que trabalham,
aqui no Rio, com o tema da democratização da mídia estavam em estado de êxtase,
porque conseguimos juntar um público mais diversificado e mais jovem.
Importante: foi uma manifestação com foco. Uma coisa é reunir 20 mil
pessoas numa manifestação esquizofrênica, com um grupo pedindo a volta da
ditadura, outro pedindo o anarquismo, outro espancando militantes partidários,
outro pedindo socialismo, outro pedindo "bolsa Louis Vitton". Não.
Éramos mil pessoas com um foco: protestar contra a Globo, contra o monopólio da
mídia.
Um estudante de economia da UFRJ, muito jovem, disse uma coisa bonita:
"não estamos aqui para protestar contra a política, mas contra o poderio
econômico que sequestra a política. Não estamos aqui para protestar contra a
corrupção, mas contra os corruptores".
O refrão mais cantado foi o mesmo que esteve presente nas grandes
manifestações, mas que a grande mídia, naturalmente, escondeu:
"A verdade é dura! A Globo apoiou a ditadura!"
Fizemos uma verdadeira assembleia popular. Claudia de Abreu,
coordenadora da Frente Ampla pela Liberdade de Expressão (Fale-Rio), um dos
movimentos sociais que lideram os debates sobre democratização da mídia no
estado do Rio, fez belíssimos discursos, sempre pontuando que não estávamos ali
para uma catarse emocional, mas preparando ações concretas para acabar com o
monopólio da grande mídia.
Eu mesmo fiz alguns discursos, explicando a denúncia contra a Globo
feita no Cafezinho, sempre enfatizando que a ficha criminal da Globo vai muito
além dessas estripulias em paraísos fiscais. A Globo cometeu crimes históricos
contra o Brasil. Lutou contra a criação da Petrobrás. Fez parte do golpe que
levou ao suicídio de Vargas. Consolidou-se financeiramente, com dinheiro
estrangeiro de um lado, e de golpistas internos, de outro, sobre o cadáver da
nossa democracia. Essas coisas tem de ser ensinadas no colégio, para que nossas
crianças, adolescentes e jovens parem de sofrer lavagem cerebral dos
platinados.
Quantos milhões de brasileiros não deixaram de se alimentar por que a
Globo patrocinou e sustentou um golpe de Estado que interrompeu o processo de
modernização democrática que apenas se iniciava com João Goulart?
Quantos milhões de brasileiros foram humilhados pela miséria, pela
fome, pela falta de escolas, hospitais e emprego, para que a família Marinho se
tornasse uma das mais ricas do mundo!
O ministro Paulo Bernardo também foi alvo dos
manifestantes. Todos muito indignados com a gestão reacionária, entreguista e
covarde do Ministério das Comunicações. Sua recente entrevista à Veja, tentando
dar uma facada nas costas dos movimentos que defendem a democratização da
mídia, foi a gota d'água.
A incompetência da ministra Helena Chagas que não propõe à presidenta
a abertura de uma mísera conta de twitter, deixando a direita midiática pautar
a agenda política nacional, também foi muito questionada pelos manifestantes.
Ficamos orgulhosos também com a participação dos jovens ativistas da
mídia ninja, um dos movimentos mais atuantes nas grandes manifestações
populares que tomaram conta do país nas últimas semanas. A manifestação foi
toda exibida ao vivo. Tivemos mais de 10 mil pessoas assistindo via mídia
ninja, mais uns dez mil pela Pos-TV. Ou seja, vinte mil pessoas acompanharam ao
vivo a nossa manifestação!
O momento alto do evento foi quando centenas de pessoas levaram uma
fita listrada e "lacraram" a Rede Globo, numa alusão ao que a Polícia
Federal costuma fazer com as pequenas rádios comunitárias acusadas de alguma
mísera irregularidade burocrática. A Globo pode dever bilhões, pode fraudar, e
ninguém faz nada. A gente fez, simbolicamente. Lacramos a TV Globo.
A quantidade de policiais era impressionante. Havia mais PM na porta
da Rede Globo do que protegendo a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
naquela manifestação que terminou em depredação da Alerj. Mais do que em frente
à sede do governo. A gente conversou com o major, explicamos o programa da
nossa manifestação e nos comprometemos a não deixar nenhum
"infiltrado" cometer atos de violência.
Mas fizemos questão de pontuar, ao microfone, que o pior vandalismo no
Brasil vem das Organizações Globo. Um vandalismo informativo, moral e político.
Alguns garotos irresponsáveis quebraram alguns vidros da Alerj. Depredaram uma
ou duas cadeiras. A Globo, ao apoiar o golpe de 64, ajudou a destruir os
alicerces de todas as assembleias legislativas do país, inclusive da principal,
em Brasília.
Houve muitas cantorias. Uma das mais fortes, mais emocionantes, foi
"Amanhã vem mais! Amanhã vem mais! Amanhã vem mais!", que deve ter
feito os platinados tremerem com a possibilidade de trazermos dezenas ou mesmo centenas
de milhares de pessoas para protestar à sua porta, e à porta de todas as suas
filiadas Brasil à fora.
Foram distribuídas quase quinhentos exemplares da revista Retrato do
Brasil, do jornalista Raimundo Pereira, que denuncia, com fartura de documentos,
a farsa do mensalão, outro golpe patrocinado pela Globo. Vale lembrar que a
Globo, aliada a forças obscuras, tem procurado manipular o sentido dos
protestos para pressionar o Supremo Tribunal Federal a agir ao arrepio da
Constituição. A Globo, além de sonegadora, é adepta de linchamentos - de seus
adversários, é claro.
Saímos todos extremamente satisfeitos com o resultado da manifestação.
Encerramos a noite num bar das redondezas, falando de política e mídia. O
deputado Protógenes Queiroz deu as caras e se dispôs a criar uma CPI da Globo,
ao que respondemos que daríamos nosso apoio, mas que, dessa vez, tinha que ser
pra valer. Não adianta só colher assinaturas. Tem de ser efetivamente criada e
conduzida com coragem, não por nenhum "Odarelo".
Mais importante que tudo, porém, é que produzimos um ato político que
por si só pode ajudar a conscientizar as pessoas de que a concentração da
mídia, do jeito que existe no Brasil, representa um perigo à nossa estabilidade
democrática. Porque a nossa mídia é golpista, reacionária e anti-trabalhista,
de um lado; e detém um poder financeiro monstruoso, de outro. A concentração
apavorante da mídia brasileira em mãos de meia dúzia de herdeiros da ditadura é
uma anomalia que os amantes da democracia devem combater com todas as suas
forças.
A presidenta Dilma tem de entender que, se não combater a mídia
golpista, não vai conseguir fazer o Brasil avançar. A mídia já está
patrocinando greves patronais de caminhoneiros, possivelmente está em conluio
com alguns industriais para sabotar a economia, tenta manipular o sentido das
manifestações, tudo para trazer a direita de volta ao poder em 2014.
O plebiscito proposto pela presidenta, por exemplo, pode vir a se
tornar um tiro no pé sem uma nova e mais ousada estratégia de comunicação, e
sem um contraponto decente à Globo. A Vênus Platinada, que é a líder do
principal partido conservador, quer enterrar o plebiscito, para desmoralizar o
governo. Ou então levá-lo adiante, mas dominar o debate, fazendo aprovar seus
itens mais nocivos ao povo, como o voto distrital.
Como uma amiga, presente à manifestação, me disse, enquanto observava
orgulhosamente as pessoas protestando na porta da Globo: essa é mãe de todas as
batalhas!
Fonte: Blog de Miguel do Rosário
05/07/13
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