Atualmente, na maioria dos bancos,
somente os altos executivos são bancários.Veja na entrevista da sindicalista mexicana Inés Gonzáles Nicolás concedida para a Contraf
CUT.

Como
foi o processo de terceirização dos serviços nos bancos mexicanos?
Inés
Gonzáles-
Os bancos mexicanos passaram por vários processos. Primeiro os bancos privados
foram estatizados, depois novamente privatizados e depois houve um processo de
internacionalização, com a compra dos bancos mexicanos por grandes grupos
estrangeiros como o Santander, City Group e BBVA, entre outros. O México só tem
um grande banco atualmente, o Banorte, os restantes são estrangeiros.
A terceirização começou nos serviços de
limpeza e segurança e foi avançando até chegar ao ponto de o BBVA, por exemplo,
ter 99% de suas atividades terceirizadas. Atualmente, na maioria dos bancos,
somente os altos executivos são bancários. A maior parte dos serviços bancários
foi transferida para a Manpower Inc, uma grande empresa multinacional de
consultoria de recursos humanos e também para outras empresas, de menor porte.
Qual
foi o impacto na terceirização no número de bancários?
Inés
Gonzáles
- Em 1982 havia cerca de 250 mil bancários no México. Com o impacto das
mudanças tecnológicas e da terceirização de serviços, esse número hoje está
entre 30 e 40 mil, no máximo.
Como
ficaram os salários e as condições de trabalho com a terceirização?
Inés
Gonzáles
- Os salários foram reduzidos e hoje não muito baixos. A única garantia é de
receber o piso nacional (salário mínimo mexicano). Muitos direitos trabalhistas
foram cortados. As jornadas de trabalho foram aumentadas e as condições de
trabalho são piores, não há controle sobre o que acontece nessas empresas.
Como
ficou a negociação com os sindicatos?
Inés
Gonzáles
- A terceirização dificulta a livre organização sindical, somente 10% dos
trabalhadores mexicanos são sindicalizados. Muitos sindicatos foram criados
depois da internacionalização dos bancos e são alinhados com os banqueiros. Os
bancos fazem Contratos Coletivos de Proteção Patronal, que teriam de resguardar
direitos dos trabalhadores, mas na verdade só protegem a eles mesmos.
Como
foi a mudança na lei que legalizou a terceirização?
Inés
Gonzáles
- Em novembro de 2012, o Congresso Nacional mexicano aprovou alteração na Lei
Federal do Trabalho. Pela nova lei, os bancos são contratantes, não podem
terceirizar o total de suas atividades, somente as atividades especializadas.
Outra questão é que, pela nova lei, os bancos são responsáveis por garantir que
as empresas contratadas tenham saúde financeira e também por elas cumprirem as
normas sobre saúde, segurança no trabalho e meio ambiente.
Mas na prática esses critérios não são
obedecidos, os bancos acabam terceirizando o que querem. Não há como o
contratante saber se a empresa contratada está com a contabilidade em ordem, se
a empresa tem ou não capacidade de honrar compromissos trabalhistas, se está
pagando a previdência social dos funcionários. A contratante, embora a lei
obrigue, também não pode fiscalizar esses ambientes de trabalho, porque essas
são atribuições exclusivas do Estado.
Os
trabalhadores tentaram impedir a aprovação da lei?
Inés
Gonzáles -
Tentamos mas não conseguimos. A organização sindical no México é muito frágil,
a maior parte dos sindicatos está atrelada aos patrões. Acredito que no Brasil
os trabalhadores tenham mais condições de enfrentar esse debate no Parlamento.
Como
está sendo a terceirização depois da mudança na lei?
Inés
Gonzáles
- Ainda não temos como avaliar, mas a nossa percepção é que a nova lei
intensificará a terceirização, uma vez que agora as empresas e bancos não têm
impedimento legal para subcontratar os serviços. Muitas empresas estão até
mesmo criando outras para terceirizar os serviços e fugir das obrigações
trabalhistas.
O que você diria aos bancários sobre esse
momento em que uma lei sobre terceirização a PL 4330, semelhante à mexicana,
está em pauta no Congresso brasileiro?
Inés Gonzáles - É preciso que os
trabalhadores, seus sindicatos, a CUT e as demais centrais sindicais se unam
para impedir que essa lei brasileira de terceirização seja aprovada. Se essa
lei passar haverá permissão legal para os patrões precarizarem as relações de
trabalho, com aumento das jornadas, redução de salários e retirada de garantias
trabalhistas.
Os trabalhadores brasileiros devem aproveitar
clima criado pelas mobilizações que aconteceram em junho para se organizar e
defender seus diretos. Para dizer aos parlamentares que eles são representantes
do povo, que devem ouvir os trabalhadores, dizer a eles que essa lei não vai
melhorar a vida da população. Deixar claro aos deputados e senadores que o que
está em jogo é o desenvolvimento do país, o modelo de sociedade que se quer
para a nação, que os trabalhadores querem trabalho digno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário