terça-feira, 17 de setembro de 2013

Por que fazer a Greve ? Sem ela conquistaremos algo ou os ataques patronais serão ainda maiores? Você decide

Reproduzo o texto do colega Jailton Santos, uma análise sensata e esclarecedora sobre a decisão de se entrar em greve ou não. Talvez uma das melhores que eu li nos últimos tempos. Não é revanchista com aqueles colegas, que por vários motivos acabam não aderindo a greve, mas com certeza os fará pensar melhor sobre o seu ato e sobre o que ele representa.

Aconselho a leitura, sinceramente você não vai se arrepender, vai tomar no máximo 5 minutos do seu tempo e com certeza é um texto  quase filosófico. Filosófico no sentido dos rumos que damos a nossas vidas, pessoal e profissional. Para aquele que se dignar a ler faça bom proveito, não precisa concordar com tudo, sei que alguns não concordarão com nada, mas o contraditório também deve estar presente em nosso entendimento

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Sendo um conhecimento essencial para a carreira de bancário, vamos exercitar um pouco a matemática financeira básica. Bem básica.

No site do sindicato dos bancários de Curitiba há uma tabela detalhando os resultados das campanhas salariais de 2003 a 2012. Lá temos informações como: inflação oficial, a proposta dos bancos, ocorrência de greve e quantidade de dias, o reajuste conquistado, e a diferença dos dois valores em relação a inflação (ganho real) antes e após cada uma das campanhas. Vale a pena verificar:

http://www.bancariosdecuritiba.org.br/noticias_detalhe.asp?id=17457&id_cat=1

Agora, para fazer umas continhas básicas sem ficar muito cansativo, vamos considerar somente os 3 últimos anos.

2010
Ganho real antes da greve:     0,00%
Ganho real após a greve:     3,08%

2011
Ganho real antes da greve:     0,37%
Ganho real após a greve:     2,35%

2012
Ganho real antes da greve:     0,58%
Ganho real após a greve:     2,02%

E para caracterizar diferentes perfis de bancários, exemplificamos com 3 faixas de salários em 2009 (antes da campanha de 2010): R$ 14.000,00, R$ 7.000,00 e R$ 3.500,00.

Mas vamos facilitar. No arquivo anexo temos uma planilha com uma rápida análise dos números, onde são apresentados os ganhos para cada uma das faixas salariais a cada campanha e um acumulado dos últimos 3 anos. Temos as informações das diferenças dos salários considerando a proposta dos bancos e o valor obtido após as campanhas e as greves. Também são feitas projeções destas diferenças acumuladas em um ano, 20 anos e 30 anos, para que possa se avaliar a significância dos valores se considerarmos diferentes expectativas de vida para o recebimento de aposentadorias e pensões.

Como vemos, o valor das diferenças salariais obtidas com as greves, acumulado em 30 anos chega a cerca de R$ 365.000 para quem recebia R$ 14.000 em 2009; mais de R$ 182.000 para quem recebia R$ 7.000 e mais de R$ 91.000 para salários de R$ 3.500.

Alguém pode alegar que não viverá 30 anos. Provavelmente nem todos viverão, mas a expectativa de vida e a idade média dos bancários é
bastante positiva. Além disso, seu cônjuge não continuará recebendo pensão? Seus herdeiros não usufruirão do patrimônio acumulado?

Lembramos que foram considerados apenas as últimas 3 campanhas. Quem quiser exercitar  um pouco mais, pode calcular os valores desde 2003, último ano sem greve, quando obtivemos uma bela perda de -4,19% em relação à inflação. Verá que os valores mais que dobram, ou seja, o patrimônio daqueles 3 perfis exemplificados aumenta em mais de R$ 700.000, R$ 360.000 e R$ 180.00, respectivamente, ao longo de 30 anos.

Estes números ajudam àqueles que acham insignificantes as pequenas diferenças percentuais obtidas, a avaliar melhor o impacto destes valores numa perspectiva histórica e perceber a diferença patrimonial obtida.

Quem acha estes valores insignificantes? Quem não gostaria de usufruir destas diferenças? Quem não gostaria de ter o conforto e tranquilidade que estes números podem trazer para si e para sua família?

Como as imagens, alguns números também valem mais que mil palavras.

Se você é daqueles que não se junta ao movimento legítimo, legal e consagrado nos regimes democráticos e capitalistas para buscar o que lhe é de direito, por achar que não vale a pena, é bom repensar.

Se você é daqueles que não adere à greve por por conforto, comodismo, medo, insegurança ou dúvidas existenciais, é bom repensar. E procurar ajuda,  apoio dos colegas e amigos, até tratamento auxiliar que possibilite sair deste estado de letargia lesivo aos seus interesses e de seus colegas. Pressões explícitas, veladas ou nem tanto, até disfarçadas em pseudos "comunicados", sempre houve e continuarão existindo enquanto alguém se intimidar. Mesmo que inócuas e ineficazes juridicamente quando o movimento cumpre os ritos legais.

Se você desconsidera o movimento com a intenção de agradar seu gerente, é muito saudável repensar também. O que ele pensará quando perceber que, dependendo de você, deixaria de receber  mais de 700 mil reais? Ou que você estaria subtraindo um belo imóvel, por exemplo, do patrimônio dele e de seus dependentes?

Fique certo que seu gerente não está ali por acaso e muitos deles tem a noção exata do que representam estes números. Fazem o que julgam ser seu papel, “convidando”, ou “convocando”  seus subordinados a trabalhar durante a greve, pois devem cumprir o que é esperado deles e agradar seus superiores. Mas alguém acredita que eles estão dispostos a abrir mão destas diferenças?

Seu chefe tem estes valores bem presentes quando avalia o que é melhor para a VIDA dele, o que é uma abordagem bem mais ampla que os poucos dias de paralisação e serviços atrasados, pelos quais nem mesmo poderá ser responsabilizado.

Saiba que ele pode lhe chamar para o trabalho, explorar o que puder, descarregar as tarefas que julgar necessárias, mesmo que não lhe sejam familiares e fazer a sua própria média com seu superior. Vai ser amistoso, simpático, compreensivo e agradecer a “colaboração”. Mas, no fundo, vai lhe desprezar por estar se empenhando em suprimir um patrimônio considerável de sua vida e dos seus familiares. Esta verdade é seguidamente repetida nas conversas informais e íntimas com quem ocupa cargos gerenciais. Usam, exploram e desprezam os bajuladores de plantão.

E os colegas? Como se sentem quando se empenham em lutar, se expondo, se desgastando, se preocupando, provocando estresse em toda a família e arcando com as consequências? Tendo, depois, que repor horas até o final do ano e muitas vezes deixando de receber as hora extras, que já vinha habitualmente prestando em função das necessidades dos serviços e falta de pessoal, e sofrendo este impacto em seu orçamento? O que eles pensam enquanto você se exime de tudo isto, sabendo que no final terá os mesmos ganhos, sem nenhum ônus ou desgaste?

E aqueles que não aderem à greve por convicção pessoal, ou porque acham não precisam de mais dinheiro e trabalham só pelo prazer, ou preferem viver com o mínimo, ou acreditam que ficarão ricos apostando na bolsa de valores ou na loteria, também devem pensar um pouco e manter um mínimo de coerência. Um desafio é lançado todos os anos nesta época e, até hoje, não se tem notícia de uma única resposta coerente. Aquele que está satisfeito com o índice oferecido pelos patrões e se recusa a participar do movimento reinvindicatório deverá doar a diferença que receberá às custas do esforço e sacrifício dos outros.

Escolhe uma instituição de caridade reconhecida, e doa mensalmente o valor da diferença. Como bancário, burocrata e afeito aos processos documentais, deve apresentar aos colegas os comprovantes da doação. Dispensável dizer que não vale doar para instituições fictícias em nome de laranjas familiares ou amigos. E que estas doações deverão ser cumulativas, ano após ano, e até o último salário, benefício ou pensão recebida. Difícil de aceitar? Então está na hora de ser coerente e mudar suas atitudes ou será mais um taxado de usurpador e aproveitador do próximo.

Aos pretensos juristas, que alegam terem o direito de escolher se fazem greve ou não, pois a legislação assim estipula, lembramos nem tudo que é legal, é moralmente aceitável. Nossos parlamentares estão totalmente dentro da lei quando contratam parentes e protegidos, com salários astronômicos para nada fazerem pela população. Estão respaldados por instrumentos legais quando alugam carros de empresas desconhecidas, viajam com a família custeados pelo dinheiro público, não comparecem às sessões de trabalho e toda a interminável lista de imoralidades praticadas e extritamente legais.

Por fim, depois de ver estes valores que, ao não se engajar, você se esforça ao máximo para sonegar a seus pares e gerentes, conseguirá entender o que se passa no íntimo deles? Sabendo disto, quem não participa da uma greve espera, realmente, que não haja nenhum ressentimento de seus colegas na volta ao trabalho? Não seria demais, exigir deles tal desprendimento, quando você mesmo não demonstra nenhum, buscando de modo egoísta apenas os seus objetivos pessoais, seja conforto psicológico, tranquilidade, ou imaginando obter alguma vantagem bajulando seus superiores?

Desde a Grécia antiga, filosofia e matemática andaram juntas como ferramentas para entender e explicar o universo. Tomara este pequeno exercício de matemática bancária possa trazer alguma luz filosófica a quem ainda não tinha a noção exata do impacto de suas decisões e atitudes.

E vamos em frente, que atrás vem gente.


Um comentário:

  1. Um gerente ou um funcionário que entra em férias em período de dissídio da classe bancária, o que é???????É mais perigoso dos que furam a greve: denotam mal caráter, egoístas conscientes pois só querem o bônus do cargo, mercadores da injustiça, não merecem confiança dos seus subordinados, homens e mulheres com nenhuma conduta ética, são imorais.

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