publicado no BLOG VIOMUNDO em 11 de agosto de 2013 às 17:13
por Luiz Carlos Azenha
O
documento acima é oficialíssimo. Está nas páginas do Senado brasileiro. Leia a
linha de número dois, sob Pago:
R$
134 bilhões, 53 milhões, 618 mil e 451 reais.
É
quanto você pagou em juros da dívida brasileira em 2012, segundo o governo (mas
há controvérsias, sobre as quais você vai saber abaixo).
Agora
leia a linha de número seis, sob Pago:
R$
618 bilhões, 888 milhões, 549 mil e 837 reais.
É
quanto você pagou em amortização/refinanciamento da dívida em 2012.
Uma
enormidade, não?
Pois
Maria Lúcia Fatorelli acredita que, se houvesse uma auditoria, o valor devido
poderia ter uma redução de até 70%.
Por
que? A ex-auditora da Receita Federal está certa de que existem ilegalidades e
irregularidades nas cobranças da dívida brasileira.
Para
benefício dos banqueiros e prejuízo dos contribuintes.
Escrevo
“contribuintes” porque a dívida é paga com dinheiro de nossos impostos. Tudo o
que o Tesouro brasileiro faz é pendurar a conta em nosso nome: “procura o
gerente” e entrega uma montanha de papéis assumindo que “devo, não nego, pago
quando puder”. Com juros, muitos juros, razão de viver dos bancos.
Aqui,
uma pausa importante: a mídia corporativa não tenta explicar tudo o que você
vai ler e ouvir abaixo aos leitores, ouvintes e telespectadores. Por que?
Porque os bancos são grandes patrocinadores. Por outro lado, mesmo os governos
não gostam de falar do assunto. Quanto mais transparência, menor margem de
manobra para os acertos de bastidores. Por isso, em geral os governos fazem de
conta que o assunto é muito árduo, muito difícil de entender e que você não
precisa se preocupar com isso. Ou seja, deve pagar a ficar quieto.
Mas,
voltemos ao que interessa…
O
poder dos banqueiros sempre foi imenso. Eles definem as regras nas duas pontas:
desde as condições de emissão dos papéis em que prometemos pagar até as regras
da cobrança.
Faturam
com as comissões sobre as transações e com os juros. Juros altos interessam aos
banqueiros. Quanto maiores, mais eles recebem emprestando ao governo.
E
os cidadãos? Pagam a conta através dos impostos e ficam sem os serviços
públicos que o dinheiro dado aos banqueiros poderia financiar. Sem o Metrô, os
hospitais e as creches que o dinheiro gasto em juros poderia financiar.
Sob
o peso da dívida — grosseiramente, R$ 3 trilhões em dívida interna e U$ 400
milhões em dívida externa — o governo privatiza. Aliás, “concede”. Entrega
parte da soberania.
Entrega
à iniciativa privada — cujo objetivo principal, como o dos banqueiros, é o
lucro — algo que poderia fazer, possivelmente mais barato, com recursos
públicos, se o dinheiro não fosse usado para pagar ou rolar a dívida e os
juros.
Concede
portos e aeroportos. Facilita o acesso a recursos naturais. Em outras palavras,
entrega o ouro.
Maria
Lucia Fatorelli é coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, uma entidade que
batalha para que o Brasil faça o mesmo que o Equador fez, em 2007 e 2008.
Aliás, uma experiência sobre a qual Maria Lucia pode falar de cátedra. Ela foi
convidada pelo presidente equatoriano Rafael Correa a fazer parte da CAIC, a
Comissão de Auditoria Integral da Dívida Pública.
Resultado
final? Boa parte da dívida equatoriana era ilegal. Não havia provas, por
exemplo, de que o governo tinha de fato recebido os empréstimos pelos quais
estava pagando. Ao fim e ao cabo, o presidente Correia reconheceu apenas 30% da
dívida. Curiosamente, 95% dos bancos credores do Equador aceitaram fazer acordo
com o governo e renunciaram a qualquer ação nos tribunais internacionais.
O
Brasil tem hoje uma dívida externa de cerca de U$ 440 bilhões. Uma fatia
razoável é de empresas privadas, que tomam dinheiro no Exterior. Mas Maria
Lucia está certa de que a fatia pública desta dívida externa, em caso de
auditoria, teria um cancelamento tão grande quanto a do Equador, dado que
condições similares foram aplicadas ao mesmo tempo nos dois paises por
banqueiros internacionais e que, em 1992, parte da dívida dos dois países
prescreveu.
Prescreveu?
Prescreveu e continuamos pagando?
Para
entender melhor, veja o que Maria Lucia fala a respeito de seu trabalho no
Equador:
Primeiro,
nomear os bancos norte-americanos que, através do Banco Central dos Estados
Unidos, o Fed, controlam a taxa de juros que nos é cobrada na dívida externa, a
Prime: Citibank, Chase Manhattan, Goldman Sachs, JP Morgan e Bank of America,
entre outros. Já a Associação dos Banqueiros de Londres tem peso decisivo na
definição da Libor, outra taxa importante no mercado.
A
auditora também prometeu o gráfico abaixo:
A
coluna azul é dos gastos sociais no Equador. A coluna vermelha é a do serviço
da dívida pública. Notem como ela foi invertida nos últimos anos. É óbvio, mas
não custa reafirmar: menos dinheiro pagando juros é mais dinheiro disponível
para gastos sociais e investimento em infraestrutura.
Maria
Lucia acha factível o Brasil fazer o mesmo que o Equador: “Se o Brasil toma uma
iniciativa dessas, ele encoraja outros paises a enfrentar o esquema”. O
“esquema” a que ela se refere é o sistema pelo qual os banqueiros passaram a
capturar fundos públicos para turbinar seu poder no mundo.
No
trecho seguinte da entrevista, ela explica que a origem da dívida interna
brasileira, de quase R$ 3 trilhões, se deu no Plano Real, quando para combater
a inflação o governo de FHC disparou a taxa de juros para atrair dinheiro de
fora.
Desde
então, acusa Maria Lucia, o Tesouro brasileiro comete ilegalidade ao emitir
dívida para pagar juros, o que segundo ela é inconstitucional.
Maria
Lucia Fatorelli também teve participação importante na Comissão Parlamentar de
Inquérito da dívida, realizada no Congresso (veja todos os detalhes aqui), que
gerou denúncias enviadas ao Ministério Público Federal.
Na
CPI, algumas informações importantes foram levantadas.
Por
exemplo: quem são os detentores dos títulos da dívida?
“Pessoa
física mesmo quase não aparece no gráfico”, diz ela.
Mais
da metade da dívida está nas mãos dos banqueiros.
Ou
seja, numa ponta eles incentivam o governo a gerar dívida e faturam comissões
vendendo a dívida; noutra, faturam com os juros da dívida. Que bom negócio!!!
Outro
detalhe impressionante diz respeito ao arranjo que existe para a venda dos
títulos brasileiros.
“O
Tesouro, quando emite os títulos, somente um grupo privilegiado de doze
instituições financeiras pode comprar esses títulos. Se eu, você, qualquer
brasileiro quiser nós vamos ter de comprar através de uma corretora, de um
intermediário”, conta Maria Lucia.
São
os chamados “dealers”.
“Olha
como o jogo funciona. O Tesouro emite. Se os juros não estão no patamar que
eles querem, eles não compram. Por isso é que são os ‘dealers’, eles é que
mandam. Antes, eles já se reúnem e já repartem, de tal forma que apenas um, no
máximo dois vão participar de cada leilão, para não ter concorrência! Tudo
muito bem repartido. É um esquema que a gente, quando descobre essas coisas…
não é possível que a finança do País tá desse jeito!”
E
como é definida a taxa Selic, a principal taxa de juros do Brasil? Antes da
trigésima sexta reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, houve
uma consulta a “analistas independentes”.
Você
que está nos lendo e paga a conta, foi consultado?
Ah,
lógico que não.
Veja
quem o BC ouviu, segundo Maria Lucia:
Caraca!,
exclamaria você. Os banqueiros estão em todas as pontas do negócio.Participam
da emissão da dívida, influem nas taxas de juros e recebem a taxa de juros
sobre a qual influem!!!
Estes
são os motivos pelos quais Maria Lucia Fatorelli acredita num grande abatimento
da dívida brasileira em caso de auditoria: ilegalidades, conflito de interesses
e tráfico de influência, como registrado acima.
Maria
Lucia Fatorelli suspeita que o governo federal esteja fazendo manobras
contábeis ao lidar com a dívida e, no curso delas, viola o artigo 167 da
Constituição, que não permite emissão de dívida para pagamento de juros.
A
suspeita nasceu assim: na tabela que aparece logo abaixo, está dito na linha 2
que o Brasil pagou R$ 134 bilhões em juros da dívida em 2012. A taxa média de
juros no ano passado, de acordo com o próprio Banco Central, foi de 11,72%.
Mas,
aplicando a taxa ao estoque total da dívida interna e externa — cerca de R$ 3,4
trilhões no início de 2012 — o número deveria ser muito maior!
Nos
cálculos de Maria Lucia, o total de juros pagos em 2012 deveria ter sido de R$
398 bilhões.
E
onde foi parar a diferença? O gato comeu R$ 264 bilhões em juros?
Na
opinião da auditora, é a prova de que o governo emite títulos para pagar juros.
Maria
Lucia opina que o Estado brasileiro hoje serve mais aos banqueiros que aos
cidadãos que pagam a conta. Outra opinião capaz de causar um acalorado debate,
mas desta vez na federação dos banqueiros, a Febraban, que costuma dizer que os
bancos prestam um serviço público, sem admitir que fazem isso também às custas
do dinheiro público.
Quer fazer uma ótima carreira do BB seja um psicopata.
ResponderExcluirhttp://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2012/08/06/funcionarios-problema-prejudicam-toda-a-equipe-conheca-cinco-perfis-e-saiba-como-agir.htm